segunda-feira, 31 de maio de 2010
altar
o sol levantou tímido. não é mais verão, e, apesar disso, experimento a frustação por uma temperatura amena - típica do outono no litoral. na varanda do apartamento, o sol deitado no piso convida à momentos de quietude e paz. de camiseta, short de algodão, pés descalços e cabelos embaraçados, sou seduzida pelos raios solares, generosamente derramados no azulejo branco. olhos fechados, rosto levemente aquecido, os passarinhos e o cheiro de mar... pareço sentir deus. da forma mais pura, natural e direta. meu altar, ergo em pensamento, do chão onde estou. tudo tão sereno, tão meu, tão eu.
domingo, 30 de maio de 2010
sábado, 29 de maio de 2010
escolhas
atravessava a avenida, apinhada de gente, sem reparar nas pessoas. não sabia se o sol o queimava ou se a fúria incendiava sua pele. passos apressados diminuíam a distância entre o restaurante em que estava e o prédio onde trabalhava. almoçava com amigos quando recebeu a ligação da equipe de segurança da empresa, notificando um incidente com seu automóvel, estacionado na garagem externa do edíficio. vinha vociferando contra tudo e todos. havia apenas duas semanas que comprara o carro e ele era o seu mais novo xodó. tinha loucura por automóveis e juntou um ano de ordenado para comprar o modelo dos seus sonhos. abriu mão das viagens familiares, dos mimos para esposa e dos pedidos das crianças por esse ou por aquele brinquedo. traçara uma meta e nada foi capaz de dissuadí-lo deste prazer vaidoso. sim, ele era vaidoso. ostentar bens era uma forma de mostrar que vencera na vida. da infância pobre à executivo bem sucedido, passou maus bocados. para atender às necessidades sociais que ele mesmo se impôs, trabalhou arduamente, sem férias, sem trégua, sem perceber a falta que fazia à família.
perto do prédio, um amontoado de gente se expremia na calçada. ao aproximar-se, escutou frases de espanto e pesar. conseguiu afastar as pessoas e, atordoado, demorou a entender a situação. engavetado no fundo do seu carro, um ônibus. entre o para-choque dianteiro e o muro do edíficio, um corpo. no para-brisas, um bilhete: "sinto sua falta, querido".
perto do prédio, um amontoado de gente se expremia na calçada. ao aproximar-se, escutou frases de espanto e pesar. conseguiu afastar as pessoas e, atordoado, demorou a entender a situação. engavetado no fundo do seu carro, um ônibus. entre o para-choque dianteiro e o muro do edíficio, um corpo. no para-brisas, um bilhete: "sinto sua falta, querido".
quinta-feira, 27 de maio de 2010
quarta-feira, 26 de maio de 2010
perdas e novos amores
acreditamos, não poucas vezes, que tudo o quanto amamos não se finda. o amor da família; o carinho dos amigos; a realização no trabalho; a cumplicidade entre irmãos; o acarajé com cerveja às sextas-feiras; as risadas dobradas por algo muito bobo; o brigadeiro nos finais de semana; a felicidade do seu cachorro ao te ver; a vitória do seu time do coração; o mar bem azul no verão... eternizamos todas essas coisas em nossos corações e quando, por qualquer motivo, uma delas nos falta, parte nossa esvazia. a morte do que amamos é uma ferida difícil, ou mesmo impossível, de cicatrizar, mas o nascimento de tantos outros amores nos coloca em pé de novo e nos faz recordar a delícia de se apaixonar.
terça-feira, 25 de maio de 2010
a minha saudade
a recordação mais linda do meu tempo de criança. a mão guia dos meus primeiros passos me leva até hoje a pisar firme no chão. o abraço mais sufocante e doce que já me envolveu. o super-herói querido das minhas histórias não morre e nem se deixa esquecer.
segunda-feira, 24 de maio de 2010
pedaços de mim
risco a pele para enfeitar o corpo. pinto o rosto para enfrentar o dia. nostalgia de criança não me deixa dormir. sumir com a saudade não resolve... ela te envolve na próxima lembrança. trança no cabelo me dá dor de cabeça. cabeça é o apelido do meu irmão mais novo. ovo cozido, no jantar, após malhar. trabalhar os músculos, depois dos trinta, é bem mais difícil. edifício de dois pavimentos é onde tenho apartamento. atrevimento me permito em algumas respostas. postas à mesa, silenciosas verdades. vaidades e chocolates são meu fraco. trago um cigarro com prazer e culpa. desculpa para mais um gole. por favor, não amole! acolhe, em seu colo, o meu corpo riscado e o meu rosto pintado "com cores que eu não sei o nome. cores de almodóvar. cores de frida kahlo. cores..."
domingo, 23 de maio de 2010
a menina do morro
ela desce a ladeira. os quadris parecem obedecer à marcação dos tambores que rufam dentro dela. lá vem ela: a saia rodada de caça, os pés em sandália de couro, os cabelos enrolados em uma flor. alguns a chamam de feiticeira, outros de maldita. ri dos apelidos e sua despreocupação a deixa ainda mais atraente. todo "zé" experimentou a agonia de ter a paz roubada pela menina. o morro desaba quando ela passa. ela sabe da falta de ar que causa. e a "maldita menina feiticeira" é cruel em suas passagens... desafiadora e inocente, levanta os olhos na direção dos embasbacados e ensaia, no canto da boca, o seu sorriso arteiro. certeiro. lá vai ela para o terreiro, em mais um dia de desassossego no morro.
sábado, 22 de maio de 2010
gente, quanta gente!
gente. que ri, chora, sofre, luta, cai e levanta. gente que sabe fechar ciclos e iniciar outros sem dor, culpa ou rancor. gente que conhece o significado de abraços apertados, sorrisos calados, corações desamparados. gente que entende um pouco da vida, um tanto da lida, um pouco da morte, um tanto da sorte. gente que dança com o tempo e dorme com o vento. gente que erra e tenta consertar. gente que machuca e corre para se desculpar. gente que acredita ser capaz de encontrar a paz. gente que encrenca por birra, faz cara feia por clima e desconfia por cisma. gente valente, de coração contente. gente, gente, gente.
sexta-feira, 21 de maio de 2010
gigantes
há uma época da vida em que todos os sonhos são possíveis; em que o mundo está ao alcance das mãos, disponível e à espera do passo a frente que poucos ousam dar; há uma época da vida em que somos deuses, gigantes e podemos tudo ou quase tudo; barreiras, obstáculos, problemas...nada nos freia – ao contrário, impulsiona a seguir; há uma época da vida em que experimentamos, efetivamente, o sabor de sermos 100% responsáveis por nossas escolhas; e essa certeza exime o outro de qualquer culpa sobre as nossas derrotas ou fracassos; há uma época da vida em que a vida parece ser perfeita porque nós a guiamos...
quarta-feira, 19 de maio de 2010
linhas rodriguianas
a vida como ela é, como ela quer. em meio aos bloqueios infantis, aos pudores hostis, um pulsar inusitado por linhas rodriguianas. um aceno do universo transgressor e a visita de antigos dilemas. mocinhas inocentes. mocinhas dissimuladas. mocinhas inocentemente dissimuladas? para cada angelita uma dorinha, lucila, terezinha, benedita, maria... em cada mulher tantas outras mulheres e entre tantas mulheres... nós.
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