não sabia o nome dele, mas o encontrava em sua rua, todos os dias, no mesmo horário. religiosamente, ao retornar do trabalho, lina cruzava com ele. não se cumprimentavam. durante dois meses, assistiu ao vai e vem daquele rapaz sem trocarem uma única palavra. falavam por olhares, por gestos comedidos, por sorrisos. palavra mesmo, nenhuma. com o passar dos dias, os encontros rotineiros foram se estabelecendo em acordo tácito. lina sentia-se cada vez mais íntima do "homem da rua". foi assim que resolveu chamá-lo. reparava se ele estivesse de cabelo comprido ou com barba por fazer. elegera as cores preferidas das camisas dele. sabia como tinha sido o dia pelo ar cansado, eufórico ou tranquilo que trazia. notava sapatos novos. chegou a sentir ciúmes por vê-lo bronzeado após um fim-de-semana. os finais de semana passaram a ser tormentos para lina. já no domingo experimentava uma aflição doída e as horas finais das segundas-feiras eram as piores. contava os minutos para o fim do expediente e, apressada, corria para o ponto de ônibus. tinha medo de perder a condução e não o encontrar no horário "marcado". justiça lhes seja feita, durante esses meses, não houve um atraso sequer de ambos. ela sorria satisfeita ao constatar que ele também cumpria com o compromisso.
em uma quarta-feira qualquer, levou um susto quando o viu aproximar-se. suas pernas tremiam. quis correr, mas desistiu ao sentir a mão do rapaz em seu braço. com um sorriso largo e em tom sedutor, ele perguntou:
- qual o seu nome, meu bem?
- por que quer saber meu nome? se for assim, não quero...
foi a última vez que ele a viu.
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me lembrou o conto "Sala de Espera" de Luis Fernando Veríssimo eu ia posta-lo aqui pra você ler mas nao coube. por isso to passando o link. leia:
ResponderExcluirhttp://dabusca.blogspot.com/2007/03/sala-de-espera-luis-fernando-verssimo.html