quarta-feira, 23 de junho de 2010

inocência

adorava ir ao quintal olhar as estrelas. sentia um encantamento sem precedentes. não havia nada, na inocência dos seus quatro anos, que o hipnotizasse mais. a mãe achava graça da obsessão do garoto e, por diversas vezes, repetia: "vai ser astrônomo". em noites de verão, o magnetismo aumentava e se quisessem falar com ele, bastavam ir ao quintal para encontrá-lo deitado na grama, embaixo de uma árvore, com os olhos fixos no céu brilhante. esse era o seu melhor momento, o mais desejado, o mais amado.

certa feita, sentiu-se mais atraído do que de costume por aquele cenário e um frenesi tomou-lhe o corpo. ágil, subiu na árvore e levantou os bracinhos tentando alcançar uma estrela. um barulho e o menino no chão. a mãe correu, apanhou-o nos braços e ouviu sua voz fraca: "por que ela se escondeu de mim, mamãe?". o menino amargou, alguns dias, a frustração por não tocar uma estrela cadente.

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