quarta-feira, 24 de novembro de 2010
afinal...
o que querem as mulheres? o pão com queijo derretido. nessa metáfora piegas do amor recheado de paixão, cabe a exatidão daquilo que é inexato. a exaustão do querer e o querer mais. cabe o que não cabe em si e transborda. o que assola e o que cura. cabe a paz incendiada. o buquê que arde. cabe o palavrão na boca doce. aquilo que é sem a pretensão de ser. cabe a liberdade cativa e o desespero suave. a implosão que se vomita. cabe viver. só razão parece não caber.
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
meditação
lá no alto, em um ponto exato, deixo o corpo exausto.
em uma energia que inebria, reconheço meu guia.
naquela paisagem, de passagem, entranho coragem.
nesse lugar, de paz singular, busco meditar.
entrego-me em prece que parece canção de ninar.
em uma energia que inebria, reconheço meu guia.
naquela paisagem, de passagem, entranho coragem.
nesse lugar, de paz singular, busco meditar.
entrego-me em prece que parece canção de ninar.
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
ela por ela
deixe a menina com ela. deixe dela. deixe ela...
a menina de tantos, hoje, é só dela.
lambe, morde, acolhe, cuida, namora ela.
deixe ir. deixe rir. deixe existir a menina dela.
vela na cabeceira zela por ela.
dela pra ela.
a menina e ela.
deixe ela. deixe dela. deixe a menina com ela...
a menina de tantos, hoje, é só dela.
lambe, morde, acolhe, cuida, namora ela.
deixe ir. deixe rir. deixe existir a menina dela.
vela na cabeceira zela por ela.
dela pra ela.
a menina e ela.
deixe ela. deixe dela. deixe a menina com ela...
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
pelourinho
minha pele tem a cor da ancestralidade indígena. meu corpo enfeito como os antepassados: pinturas, furos, braceletes. mas, meu sangue misturado, pulsante, grita. me vejo em minha raiz negra. do dedo do pé ao fio do cabelo. negra como a noite. negra como o pelourinho. das cores, dos sons, do cheiro, do sabor, da arte, do chão, dos casarões, da energia. em casa. estive em casa...
domingo, 7 de novembro de 2010
fotografias de gaveta
revirou as gavetas em busca das lembranças. suas melhores fotografias não revelou, registrou na memória. prendeu-se ao tempo durante todo o tempo em que permaneceu inerte. em seguida, limpou as gavetas para as futuras imagens.
terça-feira, 26 de outubro de 2010
eu vejo você
de tempos em tempos, ele pergunta à ela:
- o que vê em mim?
- tanta coisa...
- tanta coisa o que?
suave e, sem pressa, ela enumera.
- meu olhar ultrapassa o homem de sonhos simples; de fala pausada; de lógica cortante; de inteligência acentuada; das relações humanas; da pirraça; do riso solto; do rock'll; do mar... vejo o que, talvez, poucos vêem. vejo o amor e me vejo refletida nele.
ele sorri com a boca, com os olhos e dispara.
- eu vejo você.
por você e pelo que somos juntos, derramo aqui o meu amor. à nós, o dia de hoje.
- o que vê em mim?
- tanta coisa...
- tanta coisa o que?
suave e, sem pressa, ela enumera.
- meu olhar ultrapassa o homem de sonhos simples; de fala pausada; de lógica cortante; de inteligência acentuada; das relações humanas; da pirraça; do riso solto; do rock'll; do mar... vejo o que, talvez, poucos vêem. vejo o amor e me vejo refletida nele.
ele sorri com a boca, com os olhos e dispara.
- eu vejo você.
por você e pelo que somos juntos, derramo aqui o meu amor. à nós, o dia de hoje.
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
assassinando a gramática
que beleza! acabo de me dar conta que, pelas normas da língua portuguesa, o nome do blog está incorreto. o uso adequado do título é "entre mim e você". não soa bem, mas é o correto. metida a redatora e revisora de português, não fiz consulta prévia à gramática e agora terei que alterar o nome desse espaço... só não sei como ainda.
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
as cariocas
a noiva do catete: tentativa tímida de reprodução de "a vida como ela é", mas sem o ritmo e o clímax das narrativas rodriguianas. fake a pretensão de uma mulher devastadora. no episódio, a mulher age por meio das circunstâncias, é impulsionada àquelas situações: devoção ao noivo paraplégico por tê-la salvo em um assalto; situação financeira ruim, solucionada por um "padrinho"; realização afetiva com o garoto apaixonado e submisso. as mulheres de nelson rodrigues são mais substanciais, justamente, porque seus dilemas não passam por condicionamentos sociais. mulheres rodriguianas são movidas pelo desejo e ponto. são, essencialmente, perturbadoras.
terça-feira, 19 de outubro de 2010
no palco
entre ensaios de despedidas e despedidas reais, há sempre um palco escuro à espera da estréia. e, apesar de veterana, novos roteiros assustam.
hoje, somei, à saudade que já me é inerente, novos personagens e cenas: nanda e a partida que me parte; tom e o adeus que se impõe.
hoje, somei, à saudade que já me é inerente, novos personagens e cenas: nanda e a partida que me parte; tom e o adeus que se impõe.
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
vestida de medo
me ocorre, por ora, que seus receios diziam muito menos dela e mais daqueles à sua volta. vestia-se de medo para estar presente. e, ausente, desbravava terras do sem fim. tão mística quanto a cigana que lhe tomou em batismo. tão descrente quanto as almas suicidas. suspira e encerra o dia, retirando de cima dela a couraça do medo. amanhã, ele lhe servirá novamente.
sábado, 2 de outubro de 2010
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
sinta
"nos meus últimos 05 anos de (an)danças pela vida, tenho percebido que estamos vivendo uma espécie de anestesia do sentir. a lógica é: não sinto, logo não sofro.
o medo de ser você mesmo e de não corresponder aos padrões sociais de estética, comportamento e sucesso, têm transformado às pessoas em verdadeiros mutantes, programados para não sentir. montamos o nosso ideal de vida e beleza juntando partes – as pernas da cláudia raia, a boca da angelina jolie, o sucesso da ivete sangalo... – numa odisséia frenética que desagrega e fragmenta mais do que produz sentido.
em pedaços, ficamos impedidos de entrar em contato com o que é essencial. e é assim que o mundo de hoje vem se impondo: tudo em pedaços e separados!
no mundo de hoje, o que fica estabelecido é o não sentir, o não se sentir. no mundo de hoje, não quero estar, não consigo caminhar...
que faço eu, então?
contrário a tudo que vem sendo posto, crio mundo próprio. sentir, sentir e sentir, eis a rotação desse universo. aqui, o toque atravessa o corpo e o contato dá sentido ao sexo. aqui, é possível criar, descobrir, experimentar e reinventar. compartilhar, chorar, errar e amar. aqui, pessoas visitam-se, permitem-se, conectam-se, e saciam sua fome com conteúdo.
para muitos, tudo isso não passa da descrição de um universo paralelo. por mim, tudo bem. a loucura sempre me pareceu uma alternativa saudável de seguir na vida."
carina brandão
o medo de ser você mesmo e de não corresponder aos padrões sociais de estética, comportamento e sucesso, têm transformado às pessoas em verdadeiros mutantes, programados para não sentir. montamos o nosso ideal de vida e beleza juntando partes – as pernas da cláudia raia, a boca da angelina jolie, o sucesso da ivete sangalo... – numa odisséia frenética que desagrega e fragmenta mais do que produz sentido.
em pedaços, ficamos impedidos de entrar em contato com o que é essencial. e é assim que o mundo de hoje vem se impondo: tudo em pedaços e separados!
no mundo de hoje, o que fica estabelecido é o não sentir, o não se sentir. no mundo de hoje, não quero estar, não consigo caminhar...
que faço eu, então?
contrário a tudo que vem sendo posto, crio mundo próprio. sentir, sentir e sentir, eis a rotação desse universo. aqui, o toque atravessa o corpo e o contato dá sentido ao sexo. aqui, é possível criar, descobrir, experimentar e reinventar. compartilhar, chorar, errar e amar. aqui, pessoas visitam-se, permitem-se, conectam-se, e saciam sua fome com conteúdo.
para muitos, tudo isso não passa da descrição de um universo paralelo. por mim, tudo bem. a loucura sempre me pareceu uma alternativa saudável de seguir na vida."
carina brandão
domingo, 19 de setembro de 2010
série: cada canto do meu canto
canto cada canto do meu canto. meu encanto: varanda. das conversas a dois, a três, a seis... das danças malucas. das desculpas. da sexta do dendê. do fumacê. da introspecção. da canção. do amasso (um passo para o quarto!). do alongamento da corrida. da bebida. da saudade. da vontade de se deixar ficar... e eu fico.
terça-feira, 31 de agosto de 2010
invictus
“fora da noite que me cobre
negro como o poço de pólo a pólo
agradeço a qualquer Deus, se algum acaso existe
por minha alma inconquistável
nas garras das circunstâncias
eu não vacilei e nem me ouviram chorar
sob os golpes do acaso minha cabeça sangra, mas permanece ereta
além deste lugar de rancor e lágrimas
somente o horror das sombras se anuncia
e mesmo a ameaça dos anos encontra, e há de encontrar-me, destemido
não importa quão estreito o portão
quão repleto de penas o veredicto
eu sou o mestre do meu destino.
eu sou o capitão de minha alma.”
wiliam ernet henley
negro como o poço de pólo a pólo
agradeço a qualquer Deus, se algum acaso existe
por minha alma inconquistável
nas garras das circunstâncias
eu não vacilei e nem me ouviram chorar
sob os golpes do acaso minha cabeça sangra, mas permanece ereta
além deste lugar de rancor e lágrimas
somente o horror das sombras se anuncia
e mesmo a ameaça dos anos encontra, e há de encontrar-me, destemido
não importa quão estreito o portão
quão repleto de penas o veredicto
eu sou o mestre do meu destino.
eu sou o capitão de minha alma.”
wiliam ernet henley
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
olhos de mel
olhos rasgados, de um mel que escorre da íris até a boca. ímãs. devastadores olhos nus, sorriem. e brilham. seduzem. e se calam.
sábado, 21 de agosto de 2010
prisioneira de mim
o corpo repousado no lençol esticado e as horas preguiçosas de uma tarde qualquer me levam a lugar nenhum. algemada aos pensamentos, prisioneira de mim. esse momento não compartilho. silencio a felicidade e a saudade. me deixo ficar no ócio reflexivo, imposto aos encarcerados, para seguir em busca de mim.
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
garota solar
chateada, olhava as gotas de chuva no vidro da janela. "não suporto chuva" - pensou. o tempo cinza, o barulho da água no telhado e a sensação de tristeza que esse cenário impunha eram motivos suficientes para maldizer o guardião do céu. não entendia as pessoas que gostavam da chuva para dormir, namorar, ir ao cinema ou tomar chocolate quente. "o céu precisa desabar para fazer essas coisas?" - pensou novamente, mas, dessa vez, em voz alta. o tempo ruim sempre lhe pareceu pior do que, de fato, era. essa implicância com a chuva era conhecida pela família e pelos amigos, que a apelidaram de garota solar. quando recebeu o apelido, fez bico e pouco caso. mas teve que reconhecer... sua felicidade parecia condicionada ao sol. das cores ao cheiro da estação, tudo no verão trazia-lhe um novo suspiro. e, no último suspiro, no inverno, ela despediu-se do mundo com a previsível frase: são pedro sacana...
terça-feira, 17 de agosto de 2010
para além para
para além do que se vê para crer para além do que se teme para frente para além do que se sente para sempre.
domingo, 8 de agosto de 2010
dia dos pais
toquei a campanhia já sabendo o que encontraria do outro lado... um abraço apertado, um beijo arranhado pela barba por fazer, os olhos felizes e as boas-vindas: "minha bel!". essa cena se repete dentro de mim com a periodicidade daquilo que não finda. só sairá de mim quando eu mesma deixar de existir.
feliz dia dos pais, pai.
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
o menino
o menino sedutor deixa um rastro de amor por onde pisa. avisa, com seu jeito dengoso, que perigoso é envolver-se em sua manha. manhã de sol e lá vai ele pro mar. iemanjá é capaz de apaixonar. nadar nos braços da sereia e deixar pegadas na areia... sua rotina praieira.
mas o menino não é só brisa, é também vendaval - daquele que desorganiza. agoniza em suas dúvidas, enfurece por suas vontades e emudece em suas supostas verdades. vaidades ocasionais de um garoto caçula.
e quem pode resistir à essa mistura? eu já caí de amores por ele e já quis esganá-lo muitas vezes. paradigma natural da afinidade. felicidade mesmo é saber que o menino faz parte de mim.
mas o menino não é só brisa, é também vendaval - daquele que desorganiza. agoniza em suas dúvidas, enfurece por suas vontades e emudece em suas supostas verdades. vaidades ocasionais de um garoto caçula.
e quem pode resistir à essa mistura? eu já caí de amores por ele e já quis esganá-lo muitas vezes. paradigma natural da afinidade. felicidade mesmo é saber que o menino faz parte de mim.
domingo, 1 de agosto de 2010
tríade
a casa em preparação para celebração.
a placidez de uma dança a três.
o cheiro da felicidade trazendo vivacidade.
o apertar dos laços em abraços.
o choramingo sutil do artifício infantil.
a vida futura que o presente emoldura.
a placidez de uma dança a três.
o cheiro da felicidade trazendo vivacidade.
o apertar dos laços em abraços.
o choramingo sutil do artifício infantil.
a vida futura que o presente emoldura.
sexta-feira, 30 de julho de 2010
tatuagem
quero ficar no teu corpo
feito tatuagem
que é pra te dar coragem
pra seguir viagem
quando a noite vem...
e também pra me perpetuar
em tua escrava
que você pega, esfrega
nega, mas não lava...
quero brincar no teu corpo
feito bailarina
que logo se alucina
salta e te ilumina
quando a noite vem...
e nos músculos exaustos
do teu braço
repousar frouxa, murcha
farta, morta de cansaço...
quero pesar feito cruz
nas tuas costas
que te retalha em postas
mas no fundo gostas
quando a noite vem...
quero ser a cicatriz
risonha e corrosiva
marcada a frio
ferro e fogo
em carne viva...
corações de mãe, arpões
sereias e serpentes
que te rabiscam
o corpo todo
mas não sentes...
chico buarque/ ruy guerra
feito tatuagem
que é pra te dar coragem
pra seguir viagem
quando a noite vem...
e também pra me perpetuar
em tua escrava
que você pega, esfrega
nega, mas não lava...
quero brincar no teu corpo
feito bailarina
que logo se alucina
salta e te ilumina
quando a noite vem...
e nos músculos exaustos
do teu braço
repousar frouxa, murcha
farta, morta de cansaço...
quero pesar feito cruz
nas tuas costas
que te retalha em postas
mas no fundo gostas
quando a noite vem...
quero ser a cicatriz
risonha e corrosiva
marcada a frio
ferro e fogo
em carne viva...
corações de mãe, arpões
sereias e serpentes
que te rabiscam
o corpo todo
mas não sentes...
chico buarque/ ruy guerra
quinta-feira, 29 de julho de 2010
quarta-feira, 28 de julho de 2010
ciranda de samba
cirandou até o amanhecer. só no samba sabia ser. a roda e as palmas. a cuíca desconsiderando toda calma. ao samba ninguém escapa. é o que dizia, em coro, a lapa. tendo a barra da saia na mão, a morena sambava. e, diante dela, seu coração exultava. "êta, morena danada!" já era dia, mas a melodia não lhe abandonava. o samba convidava a mais uma rodada.
terça-feira, 27 de julho de 2010
um mês depois...
vendi meu prazer por uns tostões. o pão de cada dia, todo dia, sugeria o silêncio. o acúmulo de palavras resultou em refluxo e, por ora, vomito algumas sílabas.
na
e-xaus-tão
en-con-trei
ra-zão
pa-ra
to-le-rân-cia
toda tempestade é garoa quando há um guarda-chuva de gente no qual pode abrigar-se.
na
e-xaus-tão
en-con-trei
ra-zão
pa-ra
to-le-rân-cia
toda tempestade é garoa quando há um guarda-chuva de gente no qual pode abrigar-se.
domingo, 27 de junho de 2010
as minhas meninas
as minhas meninas poderiam ser de qualquer um, mas são minhas as meninas. e como me orgulho delas. são bravas guerreiras que cicatrizam feridas de batalhas com beijos. minhas e só minhas essas meninas que exalam perfume delicado em momentos de tristeza. suas lágrimas cheiram à rosas. me perco em cada uma delas para me encontrar em todas elas. as meninas minhas são mágicas e me encantam com seus truques de felicidade. são felizes por escolha, por aprendizado. como eu poderia existir sem que as tivesse dentro de mim? as meninas do meu coração, do meu sangue, do meu passado, do meu presente, do meu futuro... para sempre, as meninas serão e só minhas serão essas meninas.
às minhas meninas: mãe, cari, nanda e liz.
às minhas meninas: mãe, cari, nanda e liz.
sexta-feira, 25 de junho de 2010
versos & prosa
entre versos e prosa, vou me lançando ao vento. em doses suaves, faíscas de mim. vou retalhando segredos, compondo enredos, vou me jogando assim.
entre versos e prosa, vou me atirando ao tempo. sem pressa. sem essa de se esconder. vou compassando ritmo, desnudando íntimo, vou até você.
entre versos e prosa, vou me atirando ao tempo. sem pressa. sem essa de se esconder. vou compassando ritmo, desnudando íntimo, vou até você.
quinta-feira, 24 de junho de 2010
sexo
línguas em balé orgástico. arrepio na nuca. cheiro do desejo. mãos intrépidas. olhos desfocados. em transe, corpo exausto de prazer.
quarta-feira, 23 de junho de 2010
inocência
adorava ir ao quintal olhar as estrelas. sentia um encantamento sem precedentes. não havia nada, na inocência dos seus quatro anos, que o hipnotizasse mais. a mãe achava graça da obsessão do garoto e, por diversas vezes, repetia: "vai ser astrônomo". em noites de verão, o magnetismo aumentava e se quisessem falar com ele, bastavam ir ao quintal para encontrá-lo deitado na grama, embaixo de uma árvore, com os olhos fixos no céu brilhante. esse era o seu melhor momento, o mais desejado, o mais amado.
certa feita, sentiu-se mais atraído do que de costume por aquele cenário e um frenesi tomou-lhe o corpo. ágil, subiu na árvore e levantou os bracinhos tentando alcançar uma estrela. um barulho e o menino no chão. a mãe correu, apanhou-o nos braços e ouviu sua voz fraca: "por que ela se escondeu de mim, mamãe?". o menino amargou, alguns dias, a frustração por não tocar uma estrela cadente.
certa feita, sentiu-se mais atraído do que de costume por aquele cenário e um frenesi tomou-lhe o corpo. ágil, subiu na árvore e levantou os bracinhos tentando alcançar uma estrela. um barulho e o menino no chão. a mãe correu, apanhou-o nos braços e ouviu sua voz fraca: "por que ela se escondeu de mim, mamãe?". o menino amargou, alguns dias, a frustração por não tocar uma estrela cadente.
terça-feira, 22 de junho de 2010
quinta-feira, 17 de junho de 2010
vida ingrata
os pés descalços neste asfalto quente sentem que é preciso correr. em trote desvairado vai se esquecendo o viver. por quê? o coração não entende a lógica demente em busca do ter. “querida, não seja inocente, é pra sobreviver”. subvida, sobrevida, mas e a vida? o que fazer? deixar que parta, assim nada empata de ser chamada de ingrata.
quarta-feira, 16 de junho de 2010
reviravolta
acordou com a sensação de uma contínua embriaguez. levantou com dificuldade. a cabeça doía. resultado da vodca duvidosa. foi até o lavabo e desejou que a água, lançada ao rosto, lavasse as lembranças. olhou no espelho e esfregou os dedos nos olhos para remover a pintura. passou a mão no rosto diversas vezes, tentando arrancar da face os vestígios da noite anterior. chorou. um choro devastador que revelava a dor em seu coração.
o espisódio que lhe roubou o ar desenhou-se diante dela: no canto do bar, antonio, seu noivo há três anos, aos beijos com um colega de trabalho. ao lembrar, sentiu a cabeça rodar. não podia acreditar naquilo e nem podia acreditar ter sido capaz de se entregar à cinco homens, seguidamente, após presenciar a cena que a faria uma mulher da vida.
o espisódio que lhe roubou o ar desenhou-se diante dela: no canto do bar, antonio, seu noivo há três anos, aos beijos com um colega de trabalho. ao lembrar, sentiu a cabeça rodar. não podia acreditar naquilo e nem podia acreditar ter sido capaz de se entregar à cinco homens, seguidamente, após presenciar a cena que a faria uma mulher da vida.
domingo, 13 de junho de 2010
às vezes
às vezes, tenho vontade de sair correndo a esmo. às vezes, abraço o ciúme por medo e a dúvida por ressentimento. às vezes, quero fazer muita coisa ao mesmo tempo. às vezes, vou ao extremo, desafiando o meu limite. às vezes, quero ser criança. às vezes, sinto ser impossível conseguir. às vezes, tento não chorar, mas ser forte o tempo todo, às vezes, é chato demais. às vezes, brinco de ser deus, mas a brincadeira sempre acaba ao olhar o espelho. às vezes, escuto os mortos. às vezes, quero ser bicho. às vezes, saio do eixo e procuro as nuvens para me recuperar. às vezes, sou chata, mimada e ácida. às vezes, sonho acordada... muitas vezes, uma cilada! às vezes, cultivo o passado. às vezes, entorpeço os sentidos, envaideço, emudeço, enlouqueço...
sábado, 12 de junho de 2010
valentine´s day
amar é...
enroscar mãos e pés ao dormir e sentir, durante toda a noite, o calor do corpo do outro;
ouvir um "eu te amo" dito, despretensiosamente, no café da manhã;
compreender os maremotos e esperar, com serenidade, pelo desembarque no porto;
rir junto por bobagem e se reconhecer criança apesar dos fios brancos;
entorpecer os sentidos e ainda assim perceber o que, de fato, é real;
salivar a felicidade na boca que entrega um beijo;
dissolver o ciúme em pó e ingerí-lo suavemente;
acreditar em fadas, duendes e cavalos brancos;
compartilhar sessões terapêuticas para desconstruir a crença em fadas, duendes e cavalos brancos;
acolher a dor em um abraço;
ter saudade ainda que se viva sob o mesmo teto;
escutar o que está sendo dito até no silêncio;
sexo pelo tesão, pelo coração;
planejar a família do futuro;
viver entre nós, sendo eu e você.
sexta-feira, 11 de junho de 2010
quinta-feira, 10 de junho de 2010
quarta-feira, 9 de junho de 2010
fantasia
não sabia o nome dele, mas o encontrava em sua rua, todos os dias, no mesmo horário. religiosamente, ao retornar do trabalho, lina cruzava com ele. não se cumprimentavam. durante dois meses, assistiu ao vai e vem daquele rapaz sem trocarem uma única palavra. falavam por olhares, por gestos comedidos, por sorrisos. palavra mesmo, nenhuma. com o passar dos dias, os encontros rotineiros foram se estabelecendo em acordo tácito. lina sentia-se cada vez mais íntima do "homem da rua". foi assim que resolveu chamá-lo. reparava se ele estivesse de cabelo comprido ou com barba por fazer. elegera as cores preferidas das camisas dele. sabia como tinha sido o dia pelo ar cansado, eufórico ou tranquilo que trazia. notava sapatos novos. chegou a sentir ciúmes por vê-lo bronzeado após um fim-de-semana. os finais de semana passaram a ser tormentos para lina. já no domingo experimentava uma aflição doída e as horas finais das segundas-feiras eram as piores. contava os minutos para o fim do expediente e, apressada, corria para o ponto de ônibus. tinha medo de perder a condução e não o encontrar no horário "marcado". justiça lhes seja feita, durante esses meses, não houve um atraso sequer de ambos. ela sorria satisfeita ao constatar que ele também cumpria com o compromisso.
em uma quarta-feira qualquer, levou um susto quando o viu aproximar-se. suas pernas tremiam. quis correr, mas desistiu ao sentir a mão do rapaz em seu braço. com um sorriso largo e em tom sedutor, ele perguntou:
- qual o seu nome, meu bem?
- por que quer saber meu nome? se for assim, não quero...
foi a última vez que ele a viu.
em uma quarta-feira qualquer, levou um susto quando o viu aproximar-se. suas pernas tremiam. quis correr, mas desistiu ao sentir a mão do rapaz em seu braço. com um sorriso largo e em tom sedutor, ele perguntou:
- qual o seu nome, meu bem?
- por que quer saber meu nome? se for assim, não quero...
foi a última vez que ele a viu.
terça-feira, 8 de junho de 2010
bem-me-quer. mal-se-quer
a felicidade dos encontros. a dor dos desencontros.
a boca e o beijo ardente. a lágrima na face descrente.
a palavra pequena: amor. o dissílabo oposto: rancor.
a mão que afaga. o tapa que cala.
o futuro desejado. o presente rejeitado.
o corpo aquecido. o sentimento esquecido.
o entrelaçamento do querer e do sofrer.
bem-me-quer. mal-se-quer.
a boca e o beijo ardente. a lágrima na face descrente.
a palavra pequena: amor. o dissílabo oposto: rancor.
a mão que afaga. o tapa que cala.
o futuro desejado. o presente rejeitado.
o corpo aquecido. o sentimento esquecido.
o entrelaçamento do querer e do sofrer.
bem-me-quer. mal-se-quer.
segunda-feira, 7 de junho de 2010
domingo, 6 de junho de 2010
fundo do mar
sentada na areia, à beira-mar, assiste ao seu afogamento. a cena tira-lhe o ar. o corpo engolido pelo azul sedutor, agora bóia sobre ele em paz hedionda. parece veleiro suave que desliza nas ondas. corre até a água em tentativa alucinada de salvar-se. não há mais tempo. fim das angústias. no fundo do mar, a sua existência confusa.
sábado, 5 de junho de 2010
sou mulher
sou mulher de muitos sonhos e algumas realizações. mulher de emoção, guiada quase sempre pelo coração. sou mulher instável, que ora sorri alegre ora pragueja em febre. mulher transparente, algumas vezes incoerente. mulher de dúvidas refletidas no espelho pela manhã. sou mulher de manha, de dengo, de lamento. mulher de muitas fases, de afazeres, de prazeres. sou paradoxal. sou mulher da noite, mulher do dia. sou mulher... você seria?
quinta-feira, 3 de junho de 2010
dia santo
feriado santo. e o santo pedro não faz uma graça. sem graça, sem sal, sem sol. "tem dó! estamos quase no inverno!". gosto do inferno dos dias de verão. não posso pular as estações (quisera ter esse poder), mas posso fazer meu dia santo...
santo sono: saída da cama às 11h
santo prato: salmão e bonito (um peixe com esse nome não tem erro...)
santo papo: conversa em família
santo dengo: chamego sem tempo
santo feriado sem praia.
santo sono: saída da cama às 11h
santo prato: salmão e bonito (um peixe com esse nome não tem erro...)
santo papo: conversa em família
santo dengo: chamego sem tempo
santo feriado sem praia.
quarta-feira, 2 de junho de 2010
cotidiano
acorda! levanta. lava o rosto. malha. toma banho. qual a roupa de hoje? "não corra ao volante". não escutou. ouve música. bate ponto. café em frente ao computador. trabalho. e-mails. almoço. dieta. "pode um doce?". sem doce. e-mails. trabalho. risadas. saída. bate o ponto. "agora não precisa correr". não escutou. malha. toma banho. janta. "iogurte é janta?". pega o marido no trabalho. dorme. morre?
acorda! levanta. lava o rosto...
acorda! levanta. lava o rosto...
terça-feira, 1 de junho de 2010
santo remédio
foi chegando devagar, me chamando de iaiá. abriu a esteira no chão e estendeu a mão. ofereceu amor e todo o seu calor. me pus a perguntar: "quem será o tar que me chama pra amar?". sem nada mais pensar, me deixei levar. agora o safado vive a me enrolar... não quer saber de casar. corri para a mandinga, mas nem cantiga de santo deu encanto. me restou a vingança e feito criança passei a vadiar. não demorou para o danado me procurar, dizendo que vai casar. já vi que em coração de vagabundo, santo é mudo e vingança cala fundo.
segunda-feira, 31 de maio de 2010
altar
o sol levantou tímido. não é mais verão, e, apesar disso, experimento a frustação por uma temperatura amena - típica do outono no litoral. na varanda do apartamento, o sol deitado no piso convida à momentos de quietude e paz. de camiseta, short de algodão, pés descalços e cabelos embaraçados, sou seduzida pelos raios solares, generosamente derramados no azulejo branco. olhos fechados, rosto levemente aquecido, os passarinhos e o cheiro de mar... pareço sentir deus. da forma mais pura, natural e direta. meu altar, ergo em pensamento, do chão onde estou. tudo tão sereno, tão meu, tão eu.
domingo, 30 de maio de 2010
sábado, 29 de maio de 2010
escolhas
atravessava a avenida, apinhada de gente, sem reparar nas pessoas. não sabia se o sol o queimava ou se a fúria incendiava sua pele. passos apressados diminuíam a distância entre o restaurante em que estava e o prédio onde trabalhava. almoçava com amigos quando recebeu a ligação da equipe de segurança da empresa, notificando um incidente com seu automóvel, estacionado na garagem externa do edíficio. vinha vociferando contra tudo e todos. havia apenas duas semanas que comprara o carro e ele era o seu mais novo xodó. tinha loucura por automóveis e juntou um ano de ordenado para comprar o modelo dos seus sonhos. abriu mão das viagens familiares, dos mimos para esposa e dos pedidos das crianças por esse ou por aquele brinquedo. traçara uma meta e nada foi capaz de dissuadí-lo deste prazer vaidoso. sim, ele era vaidoso. ostentar bens era uma forma de mostrar que vencera na vida. da infância pobre à executivo bem sucedido, passou maus bocados. para atender às necessidades sociais que ele mesmo se impôs, trabalhou arduamente, sem férias, sem trégua, sem perceber a falta que fazia à família.
perto do prédio, um amontoado de gente se expremia na calçada. ao aproximar-se, escutou frases de espanto e pesar. conseguiu afastar as pessoas e, atordoado, demorou a entender a situação. engavetado no fundo do seu carro, um ônibus. entre o para-choque dianteiro e o muro do edíficio, um corpo. no para-brisas, um bilhete: "sinto sua falta, querido".
perto do prédio, um amontoado de gente se expremia na calçada. ao aproximar-se, escutou frases de espanto e pesar. conseguiu afastar as pessoas e, atordoado, demorou a entender a situação. engavetado no fundo do seu carro, um ônibus. entre o para-choque dianteiro e o muro do edíficio, um corpo. no para-brisas, um bilhete: "sinto sua falta, querido".
quinta-feira, 27 de maio de 2010
quarta-feira, 26 de maio de 2010
perdas e novos amores
acreditamos, não poucas vezes, que tudo o quanto amamos não se finda. o amor da família; o carinho dos amigos; a realização no trabalho; a cumplicidade entre irmãos; o acarajé com cerveja às sextas-feiras; as risadas dobradas por algo muito bobo; o brigadeiro nos finais de semana; a felicidade do seu cachorro ao te ver; a vitória do seu time do coração; o mar bem azul no verão... eternizamos todas essas coisas em nossos corações e quando, por qualquer motivo, uma delas nos falta, parte nossa esvazia. a morte do que amamos é uma ferida difícil, ou mesmo impossível, de cicatrizar, mas o nascimento de tantos outros amores nos coloca em pé de novo e nos faz recordar a delícia de se apaixonar.
terça-feira, 25 de maio de 2010
a minha saudade
a recordação mais linda do meu tempo de criança. a mão guia dos meus primeiros passos me leva até hoje a pisar firme no chão. o abraço mais sufocante e doce que já me envolveu. o super-herói querido das minhas histórias não morre e nem se deixa esquecer.
segunda-feira, 24 de maio de 2010
pedaços de mim
risco a pele para enfeitar o corpo. pinto o rosto para enfrentar o dia. nostalgia de criança não me deixa dormir. sumir com a saudade não resolve... ela te envolve na próxima lembrança. trança no cabelo me dá dor de cabeça. cabeça é o apelido do meu irmão mais novo. ovo cozido, no jantar, após malhar. trabalhar os músculos, depois dos trinta, é bem mais difícil. edifício de dois pavimentos é onde tenho apartamento. atrevimento me permito em algumas respostas. postas à mesa, silenciosas verdades. vaidades e chocolates são meu fraco. trago um cigarro com prazer e culpa. desculpa para mais um gole. por favor, não amole! acolhe, em seu colo, o meu corpo riscado e o meu rosto pintado "com cores que eu não sei o nome. cores de almodóvar. cores de frida kahlo. cores..."
domingo, 23 de maio de 2010
a menina do morro
ela desce a ladeira. os quadris parecem obedecer à marcação dos tambores que rufam dentro dela. lá vem ela: a saia rodada de caça, os pés em sandália de couro, os cabelos enrolados em uma flor. alguns a chamam de feiticeira, outros de maldita. ri dos apelidos e sua despreocupação a deixa ainda mais atraente. todo "zé" experimentou a agonia de ter a paz roubada pela menina. o morro desaba quando ela passa. ela sabe da falta de ar que causa. e a "maldita menina feiticeira" é cruel em suas passagens... desafiadora e inocente, levanta os olhos na direção dos embasbacados e ensaia, no canto da boca, o seu sorriso arteiro. certeiro. lá vai ela para o terreiro, em mais um dia de desassossego no morro.
sábado, 22 de maio de 2010
gente, quanta gente!
gente. que ri, chora, sofre, luta, cai e levanta. gente que sabe fechar ciclos e iniciar outros sem dor, culpa ou rancor. gente que conhece o significado de abraços apertados, sorrisos calados, corações desamparados. gente que entende um pouco da vida, um tanto da lida, um pouco da morte, um tanto da sorte. gente que dança com o tempo e dorme com o vento. gente que erra e tenta consertar. gente que machuca e corre para se desculpar. gente que acredita ser capaz de encontrar a paz. gente que encrenca por birra, faz cara feia por clima e desconfia por cisma. gente valente, de coração contente. gente, gente, gente.
sexta-feira, 21 de maio de 2010
gigantes
há uma época da vida em que todos os sonhos são possíveis; em que o mundo está ao alcance das mãos, disponível e à espera do passo a frente que poucos ousam dar; há uma época da vida em que somos deuses, gigantes e podemos tudo ou quase tudo; barreiras, obstáculos, problemas...nada nos freia – ao contrário, impulsiona a seguir; há uma época da vida em que experimentamos, efetivamente, o sabor de sermos 100% responsáveis por nossas escolhas; e essa certeza exime o outro de qualquer culpa sobre as nossas derrotas ou fracassos; há uma época da vida em que a vida parece ser perfeita porque nós a guiamos...
quarta-feira, 19 de maio de 2010
linhas rodriguianas
a vida como ela é, como ela quer. em meio aos bloqueios infantis, aos pudores hostis, um pulsar inusitado por linhas rodriguianas. um aceno do universo transgressor e a visita de antigos dilemas. mocinhas inocentes. mocinhas dissimuladas. mocinhas inocentemente dissimuladas? para cada angelita uma dorinha, lucila, terezinha, benedita, maria... em cada mulher tantas outras mulheres e entre tantas mulheres... nós.
Assinar:
Postagens (Atom)